FADO DOS ESTUDANTES [AÇORIANOS]
Música: autor desconhecido
Letra: popular
Incipit: O amor do estudante
Origem: Coimbra?
Data: década de 1860
Função inicial: serenata
O amor do estudante
Não dura senão uma hora,
Toca o sino, vai pr’á aula,
Vem as férias vai-se embora.
Amor fere, quando fere,
Sem distinguir qualidade;
Fere o pobre, fere o rico,
O vassalo, a magestade.
O passarinho no bosque
Busca algum da sua cor,
Mostra em tudo a natureza
A doce união d’amor.
Estudantes são maganos,
Amigos de apalpar tudo;
Apalparam-me a jaqueta
Se era de ganga ou veludo.
Estudante larga o livro,
Anda, vamos ao jardim;
Mais vale uma hora de gosto
Do que duas de latim.
O amor do estudante
É enquanto está presente;
Vem as férias vai-se embora,
Fiai-vos lá nesta gente.
O amor do estudante
É muito mas dura pouco;
É como o milho vermelho
Que se aparta um do outro.
Rapariga, se casares,
Toma conselho primeiro:
Mais vale um rapaz sem nada,
Do que um velho com dinheiro.
A capa do estudante
É um jardim de flores;
Toda cheia de remendos,
Cada um de seus amores.
Canta-se cada quadra seguida a solo e bisa-se em coro.
Informação complementar:
Canção em compasso binário simples e tom de Sol Maior, recolhida em 1871, sem indicação da origem. A única solfa oitocentista conhecida figura no Cancioneiro de Muzicas Populares, de César das Neves, com a enigmática nota “este fado é dos estudantes açorianos; foi recolhido em 1871”. Recolhido onde? Em Coimbra, trazido por estudantes oriundos do Liceu de Angra do Heroísmo? Em Coimbra, ali produzido e praticado por alunos naturais da Ilha Terceira? Em Angra do Heroísmo, estando ali popularizado?
A ter efectivamente surgido na Ilha Terceira, não é anterior à década de 1860, nem consta do rol de “bailhos” populares descritos em 1842 pelo Dr. António Moniz Corte-Real. Na Ilha Terceira canta-se e dança-se uma moda intitulada Os Estudantes, ou Fado dos Estudantes, que é o nº 17 do “Bailho Popular” ou “Bailho Direito”. O espécime terceirense parece descender da matriz original coimbrã, todavia esgrimindo algumas diferenças: o compasso é 4/4 e a melodia algo diferente; o solista canta 3 vezes o 1º verso da copla e 1 vez o 2º, sendo este esquema integralmente repetido em coro, posto o que se passa ao 2º dístico da copla, utilizando o mesmo expediente. Esta versão consta do Tenente Francisco José Dias, Cantigas do Povo dos Açores, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, 1981, págs. 235-236 e dos trabalhos do grupo Ronda dos Quatro Caminhos (LP Fados Velhos, Contradança 87-01, 1987, Lado B, faixa nº 4). Nalgumas versões orais da Ilha Terceira é costume os cantores solistas intercalarem na passagem dos versos a expressão “ó galantinha”, muito típica dos falares das ilhas centrais.
Não são estas as únicas semelhantes entre algum repertório de serenata de Coimbra e determinados espécimes tradicionais dos Açores, cujos traços de proximidade já foram devidamente salientados por José Alberto Sardinha. Há também o cariz estrófico, a viola de arame, a rabeca, e o tom dolente emprestado a peças do domínio serenil. O que dizer de temas como o Meu Bem e Olhos Negros, também eles conhecidos em Coimbra?
Transcrição: Octávio Sérgio (2009)
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Letra: popular
Incipit: O amor do estudante
Origem: Coimbra?
Data: década de 1860
Função inicial: serenata
O amor do estudante
Não dura senão uma hora,
Toca o sino, vai pr’á aula,
Vem as férias vai-se embora.
Amor fere, quando fere,
Sem distinguir qualidade;
Fere o pobre, fere o rico,
O vassalo, a magestade.
O passarinho no bosque
Busca algum da sua cor,
Mostra em tudo a natureza
A doce união d’amor.
Estudantes são maganos,
Amigos de apalpar tudo;
Apalparam-me a jaqueta
Se era de ganga ou veludo.
Estudante larga o livro,
Anda, vamos ao jardim;
Mais vale uma hora de gosto
Do que duas de latim.
O amor do estudante
É enquanto está presente;
Vem as férias vai-se embora,
Fiai-vos lá nesta gente.
O amor do estudante
É muito mas dura pouco;
É como o milho vermelho
Que se aparta um do outro.
Rapariga, se casares,
Toma conselho primeiro:
Mais vale um rapaz sem nada,
Do que um velho com dinheiro.
A capa do estudante
É um jardim de flores;
Toda cheia de remendos,
Cada um de seus amores.
Canta-se cada quadra seguida a solo e bisa-se em coro.
Informação complementar:
Canção em compasso binário simples e tom de Sol Maior, recolhida em 1871, sem indicação da origem. A única solfa oitocentista conhecida figura no Cancioneiro de Muzicas Populares, de César das Neves, com a enigmática nota “este fado é dos estudantes açorianos; foi recolhido em 1871”. Recolhido onde? Em Coimbra, trazido por estudantes oriundos do Liceu de Angra do Heroísmo? Em Coimbra, ali produzido e praticado por alunos naturais da Ilha Terceira? Em Angra do Heroísmo, estando ali popularizado?
A ter efectivamente surgido na Ilha Terceira, não é anterior à década de 1860, nem consta do rol de “bailhos” populares descritos em 1842 pelo Dr. António Moniz Corte-Real. Na Ilha Terceira canta-se e dança-se uma moda intitulada Os Estudantes, ou Fado dos Estudantes, que é o nº 17 do “Bailho Popular” ou “Bailho Direito”. O espécime terceirense parece descender da matriz original coimbrã, todavia esgrimindo algumas diferenças: o compasso é 4/4 e a melodia algo diferente; o solista canta 3 vezes o 1º verso da copla e 1 vez o 2º, sendo este esquema integralmente repetido em coro, posto o que se passa ao 2º dístico da copla, utilizando o mesmo expediente. Esta versão consta do Tenente Francisco José Dias, Cantigas do Povo dos Açores, Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, 1981, págs. 235-236 e dos trabalhos do grupo Ronda dos Quatro Caminhos (LP Fados Velhos, Contradança 87-01, 1987, Lado B, faixa nº 4). Nalgumas versões orais da Ilha Terceira é costume os cantores solistas intercalarem na passagem dos versos a expressão “ó galantinha”, muito típica dos falares das ilhas centrais.
Não são estas as únicas semelhantes entre algum repertório de serenata de Coimbra e determinados espécimes tradicionais dos Açores, cujos traços de proximidade já foram devidamente salientados por José Alberto Sardinha. Há também o cariz estrófico, a viola de arame, a rabeca, e o tom dolente emprestado a peças do domínio serenil. O que dizer de temas como o Meu Bem e Olhos Negros, também eles conhecidos em Coimbra?
Transcrição: Octávio Sérgio (2009)
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
3 Comentários:
Olá
Pertenço a uma das tunas académicas da ilha terceira, e numa das minhas pesquisas descobri este post interessante sobre este fado.
Se fosse possivel gostaria de saber mais sobre esta música e, quem sabe, talvez ouvir alguma gravação deste fado.
Aqui fica o meu contacto: marina_pires16@hotmail.com
Até breve.
Qual é o contacto actual do dr. António Nunes, por favor?
Muito obrigada.
Maria Antónia Fraga
antonio.m.nunes@netcabo.pt
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