Guitarrão
Guitarrão. Instrumento grave da família das guitarras inglesa e portuguesa. Na segunda metade do século XVIII fabricavam-se já guitarras inglesas que além da encordoação normal de dez cordas (Sol 3/Sol3, Mi 3/Mi 3, Dó 3/Dó 3, Sol 2/Sol 2, Mi 2, Dó 2) possuiam um bordão grave adicional, afinado em Sol 1 (cf. instrumento de Gérard Delaplanque, ca. 1776 ?, MI 276). Em 1806, no seu “Compendio de Musica”, Fr. Domingos de São José Varela indica estar então em uso um “guitarrão” com “tres palmos escassos de comprimento [c. 66 cm], ou 22 polegadas desde o cavalete até á pestana” (ou seja, com tiro de corda de 55,88 cm), que afina por terceiras, também com quatro ordens duplas e três bordões singelos (Ré 3/-Ré 3, Si 2/-Si 2, Sol 2/-Sol 2, Mi 2/-Mi 2, Dó 2, Lá 1, Fá 1). Já em 1875, Ambrósio Fernandes Maia, nos seus “Appontamentos para um methodo de guitarra”, informa que se fabricam guitarras portuguesas “com 15 e mais cordas”, o que sugere uma extensão grave adicional do instrumento-padrão, mas não nos dá mais detalhes. Sabemos por testemunhos orais (Raul Ney, Joel Pina) que na primeira metade do século XX guitarras portuguesas de dimensões maiores dos que as habituais (“guitarrões”) terão sido usadas a título excepcional, designadamente pelo próprio Armandinho, mas nenhum instrumento deste tipo sobreviveu, nem tampouco deles nos chegaram fotografias. Em 1972 Carlos *Paredes encomenda a ao construtor Gilberto *Grácio uma guitarra grave com a afinação Fá 3/Fá 3, Dó 2/Dó 2, Lá 2/Lá 2, Fá 2/Fá 2, Dó 3/Dó 2, Sol 2/Sol 1, a que dá o nome de “citolão” e que chega a utilizar numa gravação discográfica de 1974 em que acompanha o poeta Manuel Alegre. No final dos anos 90 o mesmo G. Grácio anuncia estar a construir o protótipo de um “guitolão” com um tiro de corda de 14,5 polegadas (= 62,23 cm), que mantém a afinação tradicional de fado mas afina uma quinta abaixo da guitarra de Lisboa e uma quarta abaixo da de Coimbra (Mi 3/Mi3, Ré 3/Ré3, Lá 2/Lá 2, Mi 3/Mi 2, Ré 3/Ré 2, Sol 2/Sol 1).
Manuel Morais
Manuel Morais
Nota: Já em 1970 Carlos Paredes havia utilizado o guitarrão para acompanhar Cecília de Melo, num LP com 12 peças, de nome genérico "Meu País". O nome indicado para o instrumento é "Guitarra portuguesa barítono-baixo".
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