sábado, 30 de janeiro de 2010

BALADA DA DESPEDIDA DO V ANO MÉDICO DE 1925-1926



Música: Jaime da Silva Portugal
Letra: Carlos Chúquere da Costa
Incipit: Ó Mar da Vida, revolto Mar
Origem: Coimbra
Função original: récita de despedida de curso
Data: 1926

Ó Mar da Vida, revolto Mar,
Torna-te manso, sereno e brando!
Olha que nós vamos embarcar
Cheios de esp’ranças, rindo, cantando!

Preamar! Preamar!
Que bom cheiro a maresia...
É largar! É largar!
Hemos de voltar um dia
A sonhar, a cantar.

Ondas de espuma, brancas, branquinhas,
Areias de oiro, cor do luar...
Olhai na praia tantas conchinhas!
Ó Mar da Vida, revolto Mar!

Vamos lá! Embarcar!
Olha a Estrelinha do Norte
Sobre nós a brilhar!
Vamos lá, que a Nau da Sorte
Vai largar! Vai largar!

As nossas capas! Tanta saudade!
Ó vida cheia de desenganos!
Ainda vai perto a mocidade
Coimbra nossa! Nossos vint’anos...

Nova Aurora a raiar!
Já a nossa vista alcança;
Novo Sol a brilhar,
Mar da Vida, Verde-Esp’rança
A sonhar, a cantar.

Informação complementar:

Balada remançosa, estilo barcarola, em compasso binário composto, escrita na tonalidade de Dó menor, passando a Dó Maior no coro. Dando continuidade a uma tradição enraizada na cultura académica desde a década de 1870 pelos cursos jurídicos, os quintanistas de Medicina da Universidade de Coimbra fizeram a sua despedida no Teatro Avenida, corria a noite de 25 de Maio de 1926. Na noite seguinte, 26 de Maio, ouve nova representação para o público em geral. A peça da récita, em prosa e verso, foi escrita por Alberto Chúquere da Costa e por Adriano Chúquere Gonçalves da Cunha. Intitulava-se «Esculápio em Cuecas», foi musicada por Jaime da Silva Portugal e tinha três actos e cinco quadros. Foi ensaiada pelo Dr. José Rodrigues, com o Dr. Matos Chaves como ponto, os cenários foram de José dos Santos Malaquias e, os contra-regras foram Jaime Sarmento e Jaime Leal. Os cursos faziam gala em convidar maestros e compositores de nomeada, embora as baladas de despedida pudessem ser assinadas pelos próprios estudantes. Estas composições, popularizadas na década de 1890, tinham vindo a substituir os pomposos hinos de curso e caracterizam-se essencialmente pela melodia sentimental, acompanhamento de orquestra, coplas vocalizadas por solista e refrão entoado em coro por todo o curso. As letras mais comuns choram o fim da juventude. Nos alvores do século XX, pouco após 1900, o fado ocupava um peso fortíssimo no imaginário estudantil, de tal arte que à balada de despedida se começou a juntar o chamado fado de despedida, o último acompanhado por guitarra em palco. A récita de Medicina de 1926 teve balada e fado. A letra da balada foi escrita por Alberto Chúquere da Costa, cabendo a música de Jaime Portugal (letra de António Correia, Crónicas da vida académica coimbrã). O maestro Álvaro Teixeira Lopes escreveu a música do fado que foi cantado por José dos Santos Malaquias, letra de Alberto Chúquere da Costa. Ao contrário do fado, gravado na circunstância por José Paradela de Oliveira e ulteriormente por António Bernardino, a balada cairia no esquecimento, não se lhe conhecendo registo fonográfico nem ecos de permanência na memória oral.

Transcrição: Octávio Sérgio (2010)
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M Nunes
Projecto
: recolha e salvaguarda de temas da Canção de Coimbra.
Pode ouvir-se o som expresso na partitura, em MIDI.

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