quinta-feira, 11 de março de 2010

AS CONTAS DO MEU ROSÁRIO

Música: João de Oliveira Anjo (1916-2007)
Letra: João de Oliveira Anjo (1916-2007)
Incipit: Nas contas do meu rosário
Origem: Coimbra
Data: 1944

Categoria: composições estróficas

Protecção: obra protegida pelo artigo 31.º do Código do Direito do Autor e dos Direitos Conexos pelo período de 70 anos após a morte do autor
Referência: PT/CO/CC/E.32

Nas contas do meu rosário
Rezo penas e segredos
São passos do calvário
Que choro por entre os dedos.

Amor que bate no peito
Bate-que-bate sem fim
Tanto bate de tal jeito
Que batendo bate em mim.

Informação complementar

Composição musical estrófica para solista masculino em compasso 4/4, na tonalidade de Mi menor, justamente um dos mais remotos e festejados tons em que se ponteavam as melodias da Canção de Coimbra na viola toeira. Contém dissonâncias.
Oriundo de uma família humilde de operários da Fábrica Vista Alegre, de Ílhavo, o Maestro João de Oliveira Anjo foi quadro das Forças Armadas, tendo dedicada a maior parte da sua vida à regência de bandas militares em Coimbra e nos Açores. Radicado em Coimbra no final da década de 1930, conviveu com diversos vultos da Canção de Coimbra como Flávio Rodrigues, Manuel Branquinho, António Ralha, Jorge Gomes e membros da Tertúlia do Fado de Coimbra. Durante a sua estadia profissional na Ilha de São Miguel catapultou a Banda Regimental de Ponta Delgada para um lugar de excelência. Foi membro clarinetista e compositor no Rancho das Tricanas de Coimbra, e sozinho ou em colaboração com o músico Manuel Eliseu assinou diversas composições para teatro. Casado com Julieta Eliseu, filha do mítico compositor, José das Neves Eliseu, viveu os últimos anos marcado pela perda da esposa e da filha.

João de Oliveira Anjo deixa uma obra vastíssima no âmbito da Canção de Coimbra, tendo composto desde 1944 até praticamente 2005. Gravaram obras de sua autoria Manuel Branquinho (Morena dos meus abrolhos, com adulteração da melodia) e José Paulo (Coimbra tão Formosa). José Miguel Baptista conhecia e interpretou peças de João Anjo como Ó Madrugada Silente. João Anjo não era um compositor qualquer. Era detentor de solidíssima formação musical e manejava com desenvoltura a pena poética. Quando se juntava com cantores e tocadores onde estivesse por exemplo António Ralha, gerava-se o mais anárquico e extraordinário humor conimbricense onde não faltavam dichotes, gargalhadas, clarinetadas a imitar a cantadeira minhota esganiçada ou um nostálgico Balancé das Fogueiras do São João. No Verão não faltava à Praia de Mira, onde reunia amigos e propiciava hilariantes cantorias. Guardamos cassetes de notável serão dos idos de 2002, onde João Anjo "contracena" com António Ralha, José Paulo e Manuel Dourado.

José Paulo conhece a obra de João Anjo e bem sabe que este grande amigo da Canção de Coimbra muitas vezes o exortou a gravar em suporte fonográfico a obra que fica. O Maestro João de Oliveira Anjo considerava as composições estróficas a jóia da coroa da Canção de Coimbra. Com efeito, cada uma das que compôs e escreveu são testemunho desse elevado quilate.

Espécime recolhido em 2001 e transcrito a partir da solfa autógrafa cedida pelo Maestro João de Oliveira Anjo.

Transcrição: Octávio Sérgio (2010)
Texto e recolha: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes

Projecto: recolha, salvagurada e preservação do Património Canção de Coimbra
(esta é a ficha n.º 31 do nosso inventário de composições estróficas,
assinalada com PT [Portugal], CO [Coimbra], CC [Canção de Coimbra], E
[composições estróficas], 31 [número sequencial no inventário])

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1 Comentários:

Blogger Eduardo Aroso disse...

Antes de mais, o meu regozijo por ver esta biografia do grande músico, poeta e amigo. Há alguns aspectos da sua riquísssima vida espiritual que dificilmente serão conhecidos do público. Digo isto porque privei com João Anjo cerca de 25 anos, e (vaidade à parte) falámos de assuntos que estão além do trivial mundo profano, o que também nunca o afastou do povo, enfim da realidade do dia-a-dia, da sua simplicidade e sentido de humor aliados a uma grande e alargada sensibilidade. Basta dizer que para além das muitas e belas ditas quadras populares, ele deixou uma obra poética que merecia publicação, mas abemos que a cidade sempre foi muito mais madrasta do que mãe.
Uma pequena correcção: a sua esposa D. Julieta não era filha do célebre violista popular José Trego (pai, pois havia o Zé Trego filho,seu cunhado, que habitualmente tocava viola-baixo e contrabaixo), mas de José Elyseu.

Cordiais saudações

Eduardo Aroso

12 de março de 2010 às 01:43  

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