segunda-feira, 19 de julho de 2010

Jorge Cravo em mais uma abordagem à Guitarra e Canto de Coimbra, no Diário de Coimbra de hoje.
Não concordo inteiramente com o texto, no que se refere à partitura.
Primeiro: nunca a partitura poderá ser a causadora da morte do Canto de Coimbra. Ele morrerá, sim, se deixarem de haver intérpretes e criadores (renovadores) de qualidade. Que me conste, na música ligeira o reportório está praticamente todo em partitura e, no entanto, ouvem-se por aí as mais diversas versões da mesma peça. Aquela não espartilhou a criatividade.
Segundo: é um meio de preservar o património. Ainda ontem me socorri da partitura do meu Ré maior, pois resolvi recomeçar a tocá-lo e, para meu desgosto, verifiquei que já não me lembrava da execução de mais de metade da peça. Sem a partitura, não mais a tocaria, a não ser que alguém ma ensinasse! Iria acontecer o mesmo que às minhas músicas de 1965 que perdi completamente, pois não era meu hábito, na altura, transcrevê-las para partitura.
Já recebi inúmeros pedidos de partituras, de pessoas que pretendem aprender determinadas peças, e não só de minha autoria. Nem todos têm a capacidade de tirar a música de ouvido e, mesmo que consigam, nunca terá a fidelidade duma partitura. Na própria música erudita não há interpretações variadas de cada música? Até as orquestras variam a sua maneira de tocar, consoante o maestro que as orienta. A partitura não impediu a criatividade dos intérpretes.
Segue um acrescento muito pertinente ao meu comentário, por João Paulo Sousa:

Acrescento ainda considerar inadmissível a perda de muitas peças, em especial instrumentais, precisamente por não haverem sido transcritos. Mais, relativamente a alguns compositores emblemáticos como Artur Paredes, Flávio Rodrigues, Jorge Tuna, Francisco F. Martins e mesmo António Portugal e Pinho Brojo, é também de díficil compreensão não ter até agora havido apoio oficial à transcrição integral e sistemática das suas obras. O culto da Canção de Coimbra e da sua Guitarra, em especial, não se faz unicamente nesta cidade - eu quase diria, nem principalmente aí - e a "política" do segredo é já nos nossos dias manifestamente desajustada. Acresce o facto do ensino do instrumento se ter generalizado, mormente nos Conservatórios do país, estando-se assim a anquilosar uma poderosa forma da sua divulgação e culto.

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3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Concordo plenamente com a sua opinião Carissimo Octávio Sérgio. Uma evolução mais consistente da Canção e da Guitarra de Coimbra está dependente de haver documentação da mesma. Não só do ponto de vista histórico mas também do ponto de vista de alguém que embora o queira aprender não esteja directamente ligado no meio. Sem ela continuariamos a tocar o que sempre passou, de pessoa para pessoa, não nos permitindo evoluir, pois seria impraticável fixarmos tudo o que vem sendo criado apenas na (in)viabilidade da transmissão popular/pessoal/social.

Como diz o Sr. Jorge Cravo, "Carlos Paredes, afirmava que precisava de andar entre as pessoas, sentir a cidade e o rio para fazer, música.", mas, porque não fazê-lo para sentir a música que se quer interpretar? E assim conseguir dar-lhe o seu toque e a sua própria visão, enquanto o original fica preservado de forma a ser passado intacto ao próximo executante?

Um abraço

19 de julho de 2010 às 15:47  
Blogger Rui Pato disse...

Também concordo inteiramente com o Octávio e com o Ângelo, embora tenha ao longo de 50 anos sido (com grande desgosto meu!) um pior que péssimo leitor de partituras.

20 de julho de 2010 às 12:13  
Anonymous Manuel Soares disse...

Caro Octávio Sérgio,

Concordo inteiramente consigo. Uma partitura não encerra em si o propósito de transcrever por completo uma interpretação - por manifesta impossibilidade de o conseguir, pese embora a riqueza da notação actual - mas é um precioso guia para a aprendizagem de um tema musical.

A sua validade é atestada pelo seu uso crescente desde há séculos, e a história não deixa margem para dúvidas: a notação musical resgatou da lei da morte inúmeros temas, constituíndo um método mais que válido de passagem do conhecimento musical, a par dos fonogramas e dos videogramas.

20 de julho de 2010 às 18:04  

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