BALADA DA MOLEIRINHA
Música: popular; adaptação de Eduardo de Melo Lucas Coelho
Letra: popular
Incipit: Ai que lindos olhos tem
Origem: Coimbra
Data: 1962
Ai que lindos olhos tem (bis)
(Ai) A filha da moleirinha (bis);
(Ai) Mal empregada é ela (bis)
(Ai) Andar ao pó da farinha (bis)
(Ai) Andar ao pó da farinha.
Andar ao pó da farinha,
(Ai) Andar ao frio da geada;
(Ai) Mal empregada é ela,
(Ai) Há-de ser a minha amada.
(Ai) Há-de ser a minha amada.
Há-de ser a minha amada,
(Ai) Há-de ser o meu amor;
(Ai) Mal empregada é ela
(Ai) Andar de dia ao calor.
(Ai) Há-de ser o meu amor.
Versão Armando Marta: os dísticos das quadras cantam-se e repetem-se com intercalação de ais neumáticos na transição das frases. O final de cada frase é prolongado com certo arrastamento, como que a remeter para alguns primitivos da Canção de Coimbra. Entre cada copla Armando Marta vocaliza um verso solto que funciona como uma espécie de falso refrão, gracioso expediente que também foi empregue na mesma altura por José Afonso
Letra: popular
Incipit: Ai que lindos olhos tem
Origem: Coimbra
Data: 1962
Ai que lindos olhos tem (bis)
(Ai) A filha da moleirinha (bis);
(Ai) Mal empregada é ela (bis)
(Ai) Andar ao pó da farinha (bis)
(Ai) Andar ao pó da farinha.
Andar ao pó da farinha,
(Ai) Andar ao frio da geada;
(Ai) Mal empregada é ela,
(Ai) Há-de ser a minha amada.
(Ai) Há-de ser a minha amada.
Há-de ser a minha amada,
(Ai) Há-de ser o meu amor;
(Ai) Mal empregada é ela
(Ai) Andar de dia ao calor.
(Ai) Há-de ser o meu amor.
Versão Armando Marta: os dísticos das quadras cantam-se e repetem-se com intercalação de ais neumáticos na transição das frases. O final de cada frase é prolongado com certo arrastamento, como que a remeter para alguns primitivos da Canção de Coimbra. Entre cada copla Armando Marta vocaliza um verso solto que funciona como uma espécie de falso refrão, gracioso expediente que também foi empregue na mesma altura por José Afonso
.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: si mi, 2ªsi, si;
2º dístico: si, 2ªsi, si 2ªsi, si.
Verso solto: si, 2ªsi, si
1º dístico: si mi, 2ªsi, si;
2º dístico: si, 2ªsi, si 2ªsi, si.
Verso solto: si, 2ªsi, si
.
Informação complementar
Composição musical estrófica para solista tenor ou barítono, em compasso binário composto (6/8) e tom de Si menor.
Tema gravado primeiramente pelo tenor Armando Marta, corria o ano de 1962, acompanhado em 1.ª guitarra de Coimbra por Eduado de Melo, em 2.ª guitarra por Ernesto de Melo, e em viola de cordas de nylon por Durval Moreirinhas no 45rpm EP Rapsódia LDF 044. O acompanhamento guitarrístico presente neste registo é largamente baseado na harmonização concebida por Artur Paredes para Balada de Coimbra (José das Neves Elyseu) no mítico registo fonográfico de 1927.
Gravada em 1964 pelo Coimbra Quartet, Grupo de Fados do Orfeon Académico, constituído pelo barítono José Miguel Baptista, os irmãos Melos, Eduardo e Ernesto, nas guitarras, e Durval Moreirinhas na viola (Discos Philips, mono 631 206 PL, ou stereo 831 206 PY, lançado em 1965). José Miguel Baptista só canta as duas primeiras quadras e, na segunda, no segundo verso vocaliza andar ao pó da geada (em vez de frio da geada). Antecedendo o LP comercializado em 1965 (Fados from Portugal), José Miguel Baptista gravou no decurso de 1964 um EP com os irmãos Melo onde também figurava esta balada.
O cantor português radicado em Paris Germano Rocha gravou também esta balada acompanhado à guitarra por Ernesto de Melo e Jorge Godinho e, à viola, por José Niza Mendes e Durval Moreirinhas. Canta andar ao pó da geada e só as duas primeiras quadras (LP Barclay 86.112).
Cantado na Sé Velha, na noite de 4 para 5 de Maio de 1989, na Serenata Monumental da Queima das Fitas, por Luís Alcoforado (Grupo Praxis Nova). Tema regravado por Luís Alcoforado no LP Coimbra em Canções. Paços de Brandão: Aurastúdios, ano de 1991, Lado B, faixa n.º 9, com Paulo Soares (g) e Carlos Costa/Luís Carlos Santos (vv). Luís Alcoforado modifica o 2.º verso da 2.ª quadra (Ai, andar de noite à geada), e apresenta uma 3.ª copla de cunho popular. Reedição no CD Praxis Nova. Percursos. Colectânea de Canções de Coimbra. Porto: Fortes & Rangel, Lda., CDM 003, ano de 1998, faixa n.º 13. Em nossa opinião o arranjo de acompanhamento idealizado por Paulo Soares para o fonograma de 1991 revaloriza significativamente este espécime, fazendo dele uma das melhores recriações de Luís Alcoforado no pós-sixties.
As coplas são todas elas de origem popular, ocorrendo em diversas recolhas/cancioneiros, incluindo o de Torre de Bera, no Concelho de Coimbra (ouvimo-lo cantar e dançar num filme de ca. 1939-1940, realizado aquando do concurso “A aldeia mais portuguesa de Portugal”).
Em Ançã, Concelho de Cantanhede, estas quadras integram o tema Padeirinha Cf. CD Do terreiro à fonte. Coimbra: Agitarte, AGT 00500, ano de 2000, faixa n.º 5, pelo Grupo Típico de Ançã que utiliza viola toeira na tocata).
Registamos ainda outra ocorrência das referidas quadras no tema popular Moleirinha, recolha de José Ribeiro de Morais - Cancioneiro de Ovelha do Marão. Porto: ELCLA, 1998, pág. 17.
Importa não confundir a Moleirinha, tema integrado na Canção de Coimbra por Eduardo Melo/Armando Marta com o célebre MOLEIRINHA (Pela estrada plana, toque, toque, toque) do antigo estudante de Coimbra Guerra Junqueiro, vindo a lume na obra Os Simples, no ano de 1892, embora datada de 1888.
A Moleirinha de G.Junqueiro foi musicada por distintos compositores como Berta Alves de Sousa, Hermínio do Nascimento, Sadanha Júnior e Tomás Borba. Nos registos efectuados nos últimos anos cumpre citar os do Grupo Folclórico do Porto e do Bando dos Gambosinos (cf. Henrique Manuel Pereira – A música de Junqueiro. Porto: Escola das Artes/Universidade Católica Portuguesa, 2009, com 2 cd anexos).
Temos ainda notícia de A Moleirinha, com música de António Tomás de Abreu Freire de Azevedo Bourbon, dada à estampa na revista Ilustração Portuguesa durante o 1.º semestre de 1915.
Uma nota sobre a melodia. Localidades há onde Moleirinha é considerada uma canção infantil, sem que venha explicitada a radicação geocultural. Na Beixa Baixa foi assinalada uma canção popular, com o mesmo título e letra convergente, cuja melodia constitui inequivocamente a matriz da versão conimbricense. Esta pode ser ouvida numa recolha/arranjo de José Lúcio, disponível em http://www.jose-lucio.com/0%20Moleirinha.htm.
Moleiras e moleirinhas povoam o folclore português, com diferentes melodias, como acontece com uma moda coreográfica recolhida por grupos folclóricos de Ansião, não muito longe de Coimbra. A integração do tema na Canção de Coimbra traduz um exercício urbano lúdico, espelhando o gosto de certas elites citadinas por motivos rurais. Nos mediévicos Contos da Cantuária, uma das deliciosas histórias da antologia fala das artimanhas que os estudantes
usaram para terem relações sexuais com a mulher e com a filha de um moleiro.
Nas margens do Mondego e ribeiras adjacentes muitas foram as azenhas e rodízios de moagem. Nos areais do Mondego, na época estival, havia mesmo o costume de se armarem moinhos provisórios onde se levavam as moendas. Não era vida fácil, nem economicamente rentável a dos moleiros. Os sistemas tradicionais de moagem foram estudados nas décadas de 1950-1960 por etnógrafos como Jorge Dias e Veiga de Oliveira: Jorge Dias/Ernesto Veiga de Oliveira/Fernando Galhano - Sistemas primitivos de moagem em Portugal. Moinhos, azenhas, atafonas (1959); Ernesto Veiga de Oliveira - Moinhos de vento. Açores e Porto Santo (1965); Ernesto Veiga de Oliveira - Moinhos de água em Portugal (1967); Ernesto Veiga de Oliveira/Benjamim Pereira/Fernando Galhano - Tecnologia tradicional portuguesa. Sistemas de moagem (1983).
Engenhos tradicionais de moagem, usados desde o Neolítico (mós manuais) e o Império Romano (atafonas), em plena actividade na década de 1960, desapareceriam em breves anos. Extinta a função original, na actualidade há exemplares musealizados e outros são mantidos como museus-escolas por grupos folclóricos e associações culturais e recreativas no âmbito da recriação do ciclo do pão.
Se um dia se fizer em Portugal um estudo sobre o ciclo do pão, que contemple uma carta dos espécimes musicais associados à actividade moageira e à alimentação, esta Moleirinha criada em primeira-mão por Armando Marta bem merecerá nela seu assento.
A versão de Armando Marta encontra-se remasterizada no CD Coimbra tem mais encanto. Porto: Edisco, ECD 138, ano de 2000, faixa n.º 3.
Uma interpretação de juventude de Luís Alcoforado, acompanhado por Paulo Soares / José Rabaça (gg) e Luís Carlos Santos / Carlos Costa (vv) está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=6Im2d3J2Ry8 .
Informação complementar
Composição musical estrófica para solista tenor ou barítono, em compasso binário composto (6/8) e tom de Si menor.
Tema gravado primeiramente pelo tenor Armando Marta, corria o ano de 1962, acompanhado em 1.ª guitarra de Coimbra por Eduado de Melo, em 2.ª guitarra por Ernesto de Melo, e em viola de cordas de nylon por Durval Moreirinhas no 45rpm EP Rapsódia LDF 044. O acompanhamento guitarrístico presente neste registo é largamente baseado na harmonização concebida por Artur Paredes para Balada de Coimbra (José das Neves Elyseu) no mítico registo fonográfico de 1927.
Gravada em 1964 pelo Coimbra Quartet, Grupo de Fados do Orfeon Académico, constituído pelo barítono José Miguel Baptista, os irmãos Melos, Eduardo e Ernesto, nas guitarras, e Durval Moreirinhas na viola (Discos Philips, mono 631 206 PL, ou stereo 831 206 PY, lançado em 1965). José Miguel Baptista só canta as duas primeiras quadras e, na segunda, no segundo verso vocaliza andar ao pó da geada (em vez de frio da geada). Antecedendo o LP comercializado em 1965 (Fados from Portugal), José Miguel Baptista gravou no decurso de 1964 um EP com os irmãos Melo onde também figurava esta balada.
O cantor português radicado em Paris Germano Rocha gravou também esta balada acompanhado à guitarra por Ernesto de Melo e Jorge Godinho e, à viola, por José Niza Mendes e Durval Moreirinhas. Canta andar ao pó da geada e só as duas primeiras quadras (LP Barclay 86.112).
Cantado na Sé Velha, na noite de 4 para 5 de Maio de 1989, na Serenata Monumental da Queima das Fitas, por Luís Alcoforado (Grupo Praxis Nova). Tema regravado por Luís Alcoforado no LP Coimbra em Canções. Paços de Brandão: Aurastúdios, ano de 1991, Lado B, faixa n.º 9, com Paulo Soares (g) e Carlos Costa/Luís Carlos Santos (vv). Luís Alcoforado modifica o 2.º verso da 2.ª quadra (Ai, andar de noite à geada), e apresenta uma 3.ª copla de cunho popular. Reedição no CD Praxis Nova. Percursos. Colectânea de Canções de Coimbra. Porto: Fortes & Rangel, Lda., CDM 003, ano de 1998, faixa n.º 13. Em nossa opinião o arranjo de acompanhamento idealizado por Paulo Soares para o fonograma de 1991 revaloriza significativamente este espécime, fazendo dele uma das melhores recriações de Luís Alcoforado no pós-sixties.
As coplas são todas elas de origem popular, ocorrendo em diversas recolhas/cancioneiros, incluindo o de Torre de Bera, no Concelho de Coimbra (ouvimo-lo cantar e dançar num filme de ca. 1939-1940, realizado aquando do concurso “A aldeia mais portuguesa de Portugal”).
Em Ançã, Concelho de Cantanhede, estas quadras integram o tema Padeirinha Cf. CD Do terreiro à fonte. Coimbra: Agitarte, AGT 00500, ano de 2000, faixa n.º 5, pelo Grupo Típico de Ançã que utiliza viola toeira na tocata).
Registamos ainda outra ocorrência das referidas quadras no tema popular Moleirinha, recolha de José Ribeiro de Morais - Cancioneiro de Ovelha do Marão. Porto: ELCLA, 1998, pág. 17.
Importa não confundir a Moleirinha, tema integrado na Canção de Coimbra por Eduardo Melo/Armando Marta com o célebre MOLEIRINHA (Pela estrada plana, toque, toque, toque) do antigo estudante de Coimbra Guerra Junqueiro, vindo a lume na obra Os Simples, no ano de 1892, embora datada de 1888.
A Moleirinha de G.Junqueiro foi musicada por distintos compositores como Berta Alves de Sousa, Hermínio do Nascimento, Sadanha Júnior e Tomás Borba. Nos registos efectuados nos últimos anos cumpre citar os do Grupo Folclórico do Porto e do Bando dos Gambosinos (cf. Henrique Manuel Pereira – A música de Junqueiro. Porto: Escola das Artes/Universidade Católica Portuguesa, 2009, com 2 cd anexos).
Temos ainda notícia de A Moleirinha, com música de António Tomás de Abreu Freire de Azevedo Bourbon, dada à estampa na revista Ilustração Portuguesa durante o 1.º semestre de 1915.
Uma nota sobre a melodia. Localidades há onde Moleirinha é considerada uma canção infantil, sem que venha explicitada a radicação geocultural. Na Beixa Baixa foi assinalada uma canção popular, com o mesmo título e letra convergente, cuja melodia constitui inequivocamente a matriz da versão conimbricense. Esta pode ser ouvida numa recolha/arranjo de José Lúcio, disponível em http://www.jose-lucio.com/0%20Moleirinha.htm.
Moleiras e moleirinhas povoam o folclore português, com diferentes melodias, como acontece com uma moda coreográfica recolhida por grupos folclóricos de Ansião, não muito longe de Coimbra. A integração do tema na Canção de Coimbra traduz um exercício urbano lúdico, espelhando o gosto de certas elites citadinas por motivos rurais. Nos mediévicos Contos da Cantuária, uma das deliciosas histórias da antologia fala das artimanhas que os estudantes
usaram para terem relações sexuais com a mulher e com a filha de um moleiro.
Nas margens do Mondego e ribeiras adjacentes muitas foram as azenhas e rodízios de moagem. Nos areais do Mondego, na época estival, havia mesmo o costume de se armarem moinhos provisórios onde se levavam as moendas. Não era vida fácil, nem economicamente rentável a dos moleiros. Os sistemas tradicionais de moagem foram estudados nas décadas de 1950-1960 por etnógrafos como Jorge Dias e Veiga de Oliveira: Jorge Dias/Ernesto Veiga de Oliveira/Fernando Galhano - Sistemas primitivos de moagem em Portugal. Moinhos, azenhas, atafonas (1959); Ernesto Veiga de Oliveira - Moinhos de vento. Açores e Porto Santo (1965); Ernesto Veiga de Oliveira - Moinhos de água em Portugal (1967); Ernesto Veiga de Oliveira/Benjamim Pereira/Fernando Galhano - Tecnologia tradicional portuguesa. Sistemas de moagem (1983).
Engenhos tradicionais de moagem, usados desde o Neolítico (mós manuais) e o Império Romano (atafonas), em plena actividade na década de 1960, desapareceriam em breves anos. Extinta a função original, na actualidade há exemplares musealizados e outros são mantidos como museus-escolas por grupos folclóricos e associações culturais e recreativas no âmbito da recriação do ciclo do pão.
Se um dia se fizer em Portugal um estudo sobre o ciclo do pão, que contemple uma carta dos espécimes musicais associados à actividade moageira e à alimentação, esta Moleirinha criada em primeira-mão por Armando Marta bem merecerá nela seu assento.
A versão de Armando Marta encontra-se remasterizada no CD Coimbra tem mais encanto. Porto: Edisco, ECD 138, ano de 2000, faixa n.º 3.
Uma interpretação de juventude de Luís Alcoforado, acompanhado por Paulo Soares / José Rabaça (gg) e Luís Carlos Santos / Carlos Costa (vv) está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=6Im2d3J2Ry8 .
Transcrição: Octávio Sérgio (2010)
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Etiquetas: Partituras de Fado
3 Comentários:
Que hermosa cancion, saludos desde México, mi apellido es Marta, Juan Enrique Marta Rodriguez, ¿quien es Armando Marta?
Armando Carlos da Silva Marta é um cantor falecido há pouco tempo, 16 de Agosto de 2007,tendo nascido em Pinhel, região da Guarda, a 7 de Dezembro de 1940. Foi jornalista em vários jornais e acabou a trabalhar na Agência Lusa. É autor de várias composições que cantou e gravou em disco.
Onde posso encontrar o link para ouvir o original de Balada da moleirinha / Eduardo de Melo, comp Jose Miguel Baptista e Quarteto de guitarras de Coimbra
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