sábado, 23 de janeiro de 2010

Pedro Magalhães Ramalho

Morreu, na quarta-feira passada, Pedro Magalhães Ramalho. Cantor de grande sensibilidade, tinha um disco gravado com temas de Carlos Figueiredo, "Saudades da Rua Larga - Fados de Coimbra", editado em 1982, pela editora Rádio Triunfo. Foi então acompanhado por Silva Ramos, Fernando Xavier, Teotónio Xavier e Amado Gomes nas guitarras; Ferreira Alves e Carlos Figueiredo nas violas. Formavam, por essa altura, a "Tertúlia Académica Rua Larga".
Podemos recordar aqui a sua melodiosa voz, num dos temas do referido disco, Mondego Acarinhado, com introdução de Teotónio Xavier.
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SONHO

Música: Alfredo António Augusto da Glória Correia (?-2009)
Letra: Alfredo António Augusto da Glória Correia (?-2009)
Incipit: Quando a noite descer suavemente
Origem: Coimbra
Data: 1980

Quando a noite descer suavemente,
Quando o sono meus olhos fechar,
Eu quero adormecer serenamente
Para poder sonhar. (bis)

Sonhar que tenho livre a minha alma
De remorsos, de penas, sem ter fim,
Que é minha toda a paz da noite calma,
Eu sou o dono de mim. (bis)

Quando o sono profundo me tomar,
Sonhando em minha mão o etéreo Céu,
Que importa então o despertar
Se o mundo já morreu. (bis)

Os versos de cada estrofe cantam-se seguidos, excepto o 4.º que é bisado, funcionando como uma espécide de falso refrão.

Informação complementar:

Composição musical estrófica em compasso quaternário (4/4) e tom de Ré menor, própria para repertório de tenor solista.
Natural da cidade do Porto, onde concluiu o Liceu D. Manuel II, Afredo Correia formou-se na Faculdade de Direito da UC na década de 1950. Enquanto estudante, foi sócio do Orfeon Académico regido pelo Maestro Manuel Raposo Marques. Alfredo Correia só viria a afirmar-se como intérprete da Canção de Coimbra após 1974, no rescaldo da profunda crise ideológico-estética que operou a captura e danação da memória do legado histórico. Assim é que em 1975 se junta a alguns antigos cultores que iam aparecendo na sede da extinta Académica/Equipa de Futebol da AAC, aos Arcos do Jardim, e inicia um meritório trabalho de ensaios e performances em espaços públicos e privados. Primeiramente foi acompanhado por Jorge Gomes/António Brojo (gg) e Manuel Dourado (v), juntando-se-lhes Aurélio Reis (v) e José Mesquita (voz). Com intensa actividade em palcos, RDP e RTP, a formação referida preparou e realizou em 1979 a gravação de dois ELPs, com vocalização de José Mesquita.
Após o 1.º Seminário do Fado de Coimbra (1978), os antigos membros da Tertúlia do Calhabé projectaram retomar a formação da primeira metade da década de 1950, com António Brojo/António Portugal (gg) e Aurélio Reis/Mário Castro (vv). Tendo Mário Castro declinado o convite, o seu lugar foi preenchido por Luís Filipe que havia trabalho com António Portugal no final da década de 1960, mormente no LP “Flores para Coimbra” (1969). Com a nova formação desenvolveria Alfredo Correia consistente actividade nos palcos de Coimbra, Portugal e estrangeiro. Dos trabalhos em estúdio, levados a cabo no final da primeira metada da década de 1980, resultou a sua presença como tenor-solista em diversas gravações da antologia vinil “Tempos de Coimbra”.
Advogado no foro conimbricense, admirador confesso do legado de António Menano, sozinho e com outros elementos do grupo, Alfredo Correia manteve as portas abertas aos que nesses anos foram demandar a Canção de Coimbra. Alfredo Correia gostava de uma boa conversa, não ocultava as suas predilecções artísticas e nunca se sentiu menorizado como jurista e cidadão por ter abertamente militado em prol da causa da Canção de Coimbra. Essa é seguramente uma dívida que a cidade de Coimbra tem para com a sua memória. O advogado Alfredo Correia, que nos últimos anos aprendera a conviver com a doença, faleceu na cidade de Coimbra em o dia 23 de Junho de 2009.
De acordo com informações que nos foram prestadas pelo autor em 2005, a melodia surgiu-lhe uma noite, na cozinha da sua moradia coimbrã, ainda sem letra. O músico Travassos Cortês, que muito de si deu à TAUC e à Secção de Música da BGUC, era de opinião que certos traços de Sonho lembravam lieder de Gustav Mahler (1860-1911), embora Alfredo Correia negasse qualquer influência directa.
Obra gravado por Alfredo Correia, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe Roxo Ferreira (Album Tempo(s) de Coimbra, disco 4, editado em 1983); disponível em compact disc:
-CD Tempo(s) de Coimbra, EMI-VC, 0777 7 99607 2 9, disco 2, editado em 1992.
Outros registos:
-Augusto Camacho Vieira, CD Coimbra é uma saudade, Coimbra, Aeminium Records, AE 002, ano de 2002, faixa nº 9, acompanhado por António Jesus/Carlos Jesus (guitarras), Paulo Larguesa/Bernardino Gonçalves (viola) e Humberto Matias (viola baixo).

Transcrição: Octávio Sérgio
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes

Pode ouvir-se, em baixo, Alfredo Glória Correia a cantar o "Sonho", acompanhado pelo grupo de António Brojo.
Sonho de Alfredo Correia sound bite

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

António Ataíde enviou-me este cartaz para um espectáculo de solidariedade para com as vítimas do Haiti. O elenco é de luxo. Vamos todos apoiar.

Enciclopédia da Música Portuguesa

A "Enciclopédia da Música em Portugal no século XX" foi apresentada quinta-feira no Teatro S. Carlos em Lisboa, constituindo o corolário de "um afincado trabalho" de 13 anos sob a direcção da etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco.
Segundo a investigadora da Universidade Nova de Lisboa, esta é uma obra fulcral e que fazia falta à bibliografia, mas "é antes de mais um ponto de partida para fazer mais e melhor".
Anteriormente a esta obra citam-se três títulos, o mais recente de 1998, "mas nenhum não tão abragente como esta enciclopédia que integra o pop-rock, fado, jazz, música popular e erudita, resultado de um afincado trabalho de 13 anos, tendo levado três anos a decidir quais as entradas mais apropriadas".
A enciclopédia em quatro volumes, num total de 15 000 páginas com 1250 entradas relativas a diferentes géneros musicais, artistas, revistas, compositores, instrumentos, institutos e escolas, entre outros.
O último volume, explicou à Lusa Salwa Castelo-Branco, tem um ensaio relativo aos grupos e artistas da década de 1990. "Este ensaio refere-se a um conjunto de artistas e grupos de grande proeminência na década de 1990, mas cuja perspectiva da importância da sua carreira só foi possível ver mais tarde, e este ensaio com entradas estruturantes como fado, Política Cultural e Música Popular, é assinado por vários especialistas, e dá conta desses desenvolvimentos", explicou a investigadora.
Colaboraram nesta enciclopédia 155 especialistas, sendo o musicólogo Rui Vieira Nery consultor principal, além dos consultores internacionais Dieter Christensen e Gérad Béhague, que "dão um olhar mais crítico e ajudaram a ter uma perspectiva mais articulada da realidade em que se estava imerso".
"O trabalho de Rui Vieira Nery foi essencial ao ajudar-nos a definir entradas, a validar e corrigir dados, a rever textos, etc..", disse Castelo-Branco.
Por detrás da enciclopédia que será editada em conjunto pelo Círculo de Leitores e a Temas e Debates até ao final do ano, com a saída de um volume por trimestre, está uma "base de dados relacional" projectada e organizada por António Tilly, que inclui 5000 entradas com textos, bibliografia, biografias, iconografia, lista de obras e até discografia.
"Trata-se de uma base de dados relacional na medida em que possibilita ligações com outras bases, e permite não só armazenar dados como actualizar constantemente, e estará a cargo do Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa", explicou Salwa Castelo-Branco.
O primeiro volume - da letra A à C - abre com Joaquim Azinhal Abelho, foclorista nascido na Orada (Borba) e que realizou várias campanhas de compilação de poesia e teatro populares, e termina com “Conservatórios de Música”.
Entre outras entradas, este primeiro volume integra Mara Abrantes, Laura Alves, António Brojo, Palmira Bastos, Pedro Barroso, Tomás Alcaide, José Afonso ou Pedro Abrunhosa.
Este volume inclui ainda um CD que "reúne alguns dos eixos fundamentais da produção musical da Emissora Nacional", integrando, entre outros, Amália Rodrigues, a cançonetista Maria de Fátima Bravo, a Orquestra Ligeira da Emissora sob a direcção de Tavares Belo, o Sexteto Vocal Masculino da Emissora, o Coro do Liceu Camões, José Afonso e a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional sob a direcção de Fredereico de Freitas ou de Silva Pereira.
A “Enciclopédia da Música em Portugal no século XX” foi apresentada quinta-feira no Teatro São Carlos por Anthony Seeger, da Universidade da Califórnia, Rafael Menezes Bastos, da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) e Rui Vieira Nery.
A sessão de apresentação incluiu a participação musical de Bernardo Sassetti, Sérgio Godinho, Tito Paris, e Carlos do Carmo.
Agência lusa, com ligeiras alterações.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010




Paulo Soares executa Ensaio nº 1, de Octávio Sérgio, extraído do disco "A Guitarra e a Universidade de Coimbra".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Jorge Cravo, mais uma vez, em luta cerrada a favor do Canto e da Guitarra de Coimbra. Diário de Coimbra de hoje.

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