sábado, 30 de janeiro de 2010

Ricardo Rocha no Expresso




Ricardo Rocha à conversa com Cristina Margato no jornal Expresso, de sábado passado. Texto com o título "Levitações".
Retirado do Blog da Marinela http://ruadobocage.blogspot.com/

BALADA DA DESPEDIDA DO V ANO MÉDICO DE 1925-1926



Música: Jaime da Silva Portugal
Letra: Carlos Chúquere da Costa
Incipit: Ó Mar da Vida, revolto Mar
Origem: Coimbra
Função original: récita de despedida de curso
Data: 1926

Ó Mar da Vida, revolto Mar,
Torna-te manso, sereno e brando!
Olha que nós vamos embarcar
Cheios de esp’ranças, rindo, cantando!

Preamar! Preamar!
Que bom cheiro a maresia...
É largar! É largar!
Hemos de voltar um dia
A sonhar, a cantar.

Ondas de espuma, brancas, branquinhas,
Areias de oiro, cor do luar...
Olhai na praia tantas conchinhas!
Ó Mar da Vida, revolto Mar!

Vamos lá! Embarcar!
Olha a Estrelinha do Norte
Sobre nós a brilhar!
Vamos lá, que a Nau da Sorte
Vai largar! Vai largar!

As nossas capas! Tanta saudade!
Ó vida cheia de desenganos!
Ainda vai perto a mocidade
Coimbra nossa! Nossos vint’anos...

Nova Aurora a raiar!
Já a nossa vista alcança;
Novo Sol a brilhar,
Mar da Vida, Verde-Esp’rança
A sonhar, a cantar.

Informação complementar:

Balada remançosa, estilo barcarola, em compasso binário composto, escrita na tonalidade de Dó menor, passando a Dó Maior no coro. Dando continuidade a uma tradição enraizada na cultura académica desde a década de 1870 pelos cursos jurídicos, os quintanistas de Medicina da Universidade de Coimbra fizeram a sua despedida no Teatro Avenida, corria a noite de 25 de Maio de 1926. Na noite seguinte, 26 de Maio, ouve nova representação para o público em geral. A peça da récita, em prosa e verso, foi escrita por Alberto Chúquere da Costa e por Adriano Chúquere Gonçalves da Cunha. Intitulava-se «Esculápio em Cuecas», foi musicada por Jaime da Silva Portugal e tinha três actos e cinco quadros. Foi ensaiada pelo Dr. José Rodrigues, com o Dr. Matos Chaves como ponto, os cenários foram de José dos Santos Malaquias e, os contra-regras foram Jaime Sarmento e Jaime Leal. Os cursos faziam gala em convidar maestros e compositores de nomeada, embora as baladas de despedida pudessem ser assinadas pelos próprios estudantes. Estas composições, popularizadas na década de 1890, tinham vindo a substituir os pomposos hinos de curso e caracterizam-se essencialmente pela melodia sentimental, acompanhamento de orquestra, coplas vocalizadas por solista e refrão entoado em coro por todo o curso. As letras mais comuns choram o fim da juventude. Nos alvores do século XX, pouco após 1900, o fado ocupava um peso fortíssimo no imaginário estudantil, de tal arte que à balada de despedida se começou a juntar o chamado fado de despedida, o último acompanhado por guitarra em palco. A récita de Medicina de 1926 teve balada e fado. A letra da balada foi escrita por Alberto Chúquere da Costa, cabendo a música de Jaime Portugal (letra de António Correia, Crónicas da vida académica coimbrã). O maestro Álvaro Teixeira Lopes escreveu a música do fado que foi cantado por José dos Santos Malaquias, letra de Alberto Chúquere da Costa. Ao contrário do fado, gravado na circunstância por José Paradela de Oliveira e ulteriormente por António Bernardino, a balada cairia no esquecimento, não se lhe conhecendo registo fonográfico nem ecos de permanência na memória oral.

Transcrição: Octávio Sérgio (2010)
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M Nunes
Projecto
: recolha e salvaguarda de temas da Canção de Coimbra.
Pode ouvir-se o som expresso na partitura, em MIDI.

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Por terras da Rússia, já lá vão uns anos. Um friso notável de cultores da Guitarra e do Canto de Coimbra: Luís Marinho, Rui Pato, António Portugal, António Bernardino, António Brojo, Machado Soares e José Mesquita.
Espólio de José Mesquita.

Espectáculo de solidariedade, logo à noite no TAGV, a favor das vítimas do Haiti. Diário de Coimbra de hoje.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

TENHO BARCOS, TENHO REMOS

Música: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (1929-1987)
Letra: popular (alentejana)
Incipit: Tenho barcos, tenho remos
Origem: Faro
Data: 1962

Tenho barcos, tenho remos,
Tenho navios no mar;
Tenho o amor ali defronte
E não lhe posso chegar.

Tenho navios no mar, (bis)
Tenho o amor ali defronte
Não me posso consolar. (bis)

Já fui nau, já fui navio
Já fui chalupa, escaler;
Já fui moço, já sou homem,
Só me falta ter mulher.

Só me falta ter mulher, (bis)
Já fui moço, já sou homem
Já fui chalupa, escaler.

Os versos das quadras vocalizam-se sem repetições. Os tercetos são bisados no 1.º verso e o primeiro terceto é bisado também nos dois últimos versos..
Esquema do acompanhamento:
Quadra: Sol, Sol Sol, 2ªSol Dó, Sol 2ªSol, Sol;
Terceto: Dó, Sol Dó Sol Sol, Dó Sol, 2ªSol, Sol;

Informação complementar
Composição musical estrófica para 2.º tenor solista, com compasso indefinido, a pender para o quaternário, com desenvolvimento na tonalidade de Sol Maior. Nas vocalizações protagonizadas por José Afonso e António Bernardino afirma-se como uma obra literário-musical de grande beleza e intensidade dramática.
A 1ª quadra, como popular que é, tem diversas variantes. No 1º dístico, uma delas é «... tenho redes», em vez de remos. Na gravação de José Afonso, estão implícitas no 2.º dístico duas variantes e uma outra encontra-se numa gravação do Rancho Coral e Etnográfico do Povo de Serpa (EP ALVORADA, AEP 60.920). A 2.ª quadra também tem variantes. No 1º verso, «Já fui nau,...» e parece-nos que “Já fui mar...” seja corruptela por deficiente aprendizagem de outiva. Também se encontram variantes no 2º e no 3º verso e, no 4º verso. A variante que se afigura de assinalar é a da substituição do verbo ser por ter, que parece ser mais apropriada (Só me falta ter mulher).
Nas suas actuações orfeónicas e também na viagem com a TAUC ao Brasil, no Verão de 1925, o antigo estudante e aplaudidíssmo serenateiro Agostinho Fontes Pereira de Melo cantou a quadra jocosa:

Já fui mar, já fui navio,
Já fui chalupa e escaler,
Já fui rapaz, já sou homem,
Falta agora ser mulher.

O tema popular alentejano, com solfa, foi recolhido por Pedro Fernandes Tomás, Canções portuguesas (do século XVIII à actualidade), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1934, pág. 134.
Esta é seguramente uma obra-referência do Movimento da Balada. José Afonso gravou esta canção em 1962, acompanhado exclusivamente à viola de cordas de nylon por Rui Pato (disco RAPSÓDIA, EPF 5.182, de 45 rpm). Em Cantares de José Afonso, Lisboa, 1969, AEIST, 1969, pág. 49, vem (incompletamente) a letra gravada por José Afonso e, em nota de rodapé, a indicação da existência de um barco que pertencia a uma pequena sociedade constituída por Manuel Pité, António Barahona, José Louro, António Bronze e José Afonso (ver também João Afonso dos Santos, José Afonso. Um olhar fraterno, Lisboa, Caminho, 2002, pág. 159). A 1ª e 2ª quadras são contudo muito anteriores à existência do dito barco e ao nascimento do próprio José Afonso. Disponível em long play: LP José Afonso – Baladas e fados de Coimbra, Edisco, EDL 18.020, editado em 1982.
Espécime recuperado e gravado por António Bernardino, com acompanhamento de viola de cordas de nylon por Rui Pato, em 1983, na antologia Tempo(s) de Coimbra, editada em 1984 e reeditada em 1990.
Na primeira metade da década de 1990 o tema é gravado pela Tertúlia do Fado de Coimbra, na voz de José Miguel Baptista que não canta exactamente como José Afonso, música e letra: CD Tertúlia do Fado de Coimbra – Amanhecer em Coimbra, Edisco, ECD 15, editado em 1993.
Outra abordagem marcante da década de 1990 foi efectuada por Victor Almeida e Silva, acompanhado por Paulo Soares e Carlos Costa: CD Trova Lírica, Lisboa, Movieplay PE 51.013, ano de 1994, faixa nº 14, aqui com um arranjo guitarrístico peculiar de Paulo Soares. No registo referido vem omitida a autoria da música e apenas se indica “popular” para a letra.
Há ainda notícia de outra gravação pelo grupo Guitarras do Mondego, sem indicação do nome do cantor: CD Gerações, ano de 2003, faixa nº 9, sendo seguido o arranjo de guitarra concebido por Paulo Soares em 1994. Esta formação é constituída por João Couceiro/Nuno Lages (cantores), Paulo Conceição/Pedro Manso (gg) e Pedro Gama (viola).

Transcrição: Octávio Sérgio (2010), baseada na interpretação do autor
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M Nunes
Projecto: Recolha e preservação de temas da Canção de Coimbra
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Comentário de Jorge Rino:
Parte da letra é mais velha do que vento norte e é brasileira.
Quase de certeza que não é de invenção do orfeonista que a cantou ou disse na digressão do Orfeon ao Brasil.
Eis o que eu tinha de outiva e que confirmei com o livro dos anos 60 e que estava à mão:
Ariano Suassuna – Auto da Compadecida
“Versinho” de Canário Pardo que a mãe de João Grilo cantava para ele adormecer
Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher.

Pode ouvir-se o autor, acompanhado por Rui Pato, na viola.

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Bruno Monteiro, violinista de eleição, na Casa Museu Bissaya Barreto, amanhã, pelas 19 horas. Diário de Coimbra de hoje.